24/06/2016 08h09
Zélia, Caetano, Fafá, Elba e Yamandu se destacam em cerimônia no Rio
Chamada de "oportunista" pelo compositor Roque Ferreira por ser incluÃda pelo Prêmio da Música Brasileira na categoria samba, a cantora Zélia Duncan saiu da cerimônia de premiação, no Teatro Municipal, na quarta-feira, 22, como grande vencedora: levou três troféus, melhor canção, Antes do Mundo Acabar (sua com Zeca Baleiro), CD (homônimo) e cantora. O disco, com sambas de Paulinho da Viola, Moacyr Luz, Xande de Pilares e seus, venceu o do autor baiano (Terreiros), que, ao saber que concorria com uma "não sambista", pedira ao criador e diretor-geral do prêmio, José MaurÃcio Machline, que seu disco fosse retirado da categoria - não foi atendido.
"Para mim, essa história se encerra aqui. Eu sou roqueira. Essa liberdade conquistei com muitos anos de trabalho. Gravei sambas como um agradecimento ao gênero. Vida longa a quem tem amor no coração!", disse a cantora na saÃda da cerimônia, à qual foi com um provocador broche dos Rolling Stones (o da lÃngua para fora) preso à roupa.
Nessa quinta, 23, por telefone, o compositor de sucessos de Zeca Pagodinho, como Ãgua da Minha Sede (com Dudu Nobre), e Samba pras Moças (com Grazielle Ferreira) classificou os prêmios dados a Zélia "uma violência ao samba". "Ela é roqueira, e ganhou porque o projeto é do Machline, que é um canalha bem-vestido, com roteiro dela. Samba tem que haver compromisso." Para Machline, conceitos cristalizados, como os de Roque, estão "fora de moda".
A noite foi de tributo a Gonzaguinha (1945-1991), e teve cores polÃticas, impressas por músicas de crÃtica social, como Comportamento Geral - que teve interpretação potente de Criolo -, e É, com Seu Jorge. Numa deixa da apresentadora, a atriz Dira Paes, o Municipal chegou a gritar, em unÃssono, "Fora Temer!", referência ao presidente em exercÃcio, Michel Temer.
A cerimônia, que contou a trajetória de vida e artÃstica de Gonzaguinha, foi dramatizada, e a performance do ator Júlio Andrade como o compositor (ele já o havia feito na cinebiografia Gonzaga - De Pai para Filho, de Breno Silveira) foi comovente. A plateia aplaudiu de pé o ator, e também a versão de Ney Matogrosso para Explode Coração e a de Elza Soares de O Que É o Que É?.
Além de Zélia Duncan, saÃram do teatro com mãos cheias de prêmios Caetano Veloso (dois troféus, pelo CD Dois Amigos, Um Século de Música, gravado com Gilberto Gil, e cantor de MPB), Fafá de Belém (CD de canção popular, Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso, e cantora), Elba Ramalho (CD regional, Cordas, Gonzaga e Afins, e cantora) e Yamandu Costa (CD instrumental, Tocata à Amizade, com Rogério Caetano, e pela dupla formada com o também violonista).
As escolhas foram de 21 jurados. O jovem Alfredo Del-Penho, que lançou dois CDs via financiamento coletivo, superou Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz como cantor de samba, e estava exultante. "Ouço Zeca todo dia. Meus CDs não tinham interessado à s gravadoras, só foram gravados graças à ajuda das mil pessoas que contribuÃram."
A novata banda Dônica, integrada pelo caçula de Caetano, Tom Veloso, também festejou muito seu prêmio de melhor grupo de MPB. "Tenho 19 anos, não estou entendendo o que está acontecendo. Saberei daqui a uns cinco anos", declarou José Ibarra, tecladista e vocalista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte: Estadão Conteúdo